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sábado, 16 de junho de 2012

MACONHA na cabeça dos jovens


MACONHA na cabeça dos jovens



Pesquisa brasileira sugere que o uso dessa erva antes dos 15 anos prejudica funções mentais no futuro
por Theo Ruprecht / ilustração Nik Neves

Família

Se as bebidas alcoólicas e o tabaco saíssem de cena, a maconha seria a droga mais consumida no mundo. No Brasil, cerca de 9% da população a usa ou ao menos a usou regularmente. Hoje em dia, estima-se que 65% das pessoas têm acesso fácil a ela. Dados como esses preocupam muitos pais, que veem com frequência relatos de supostos malefícios da erva Cannabis sativa para a cabeça de seus filhos. Mas a questão é que, até agora, poucos experimentos sérios foram realizados sobre a influência da marijuana no desenvolvimento mental dos adolescentes. Em outras palavras, há muita opinião para poucos fatos concretos.

Em meio a esse cenário, a psicóloga Maria Alice Fontes, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), realizou uma bateria de testes cognitivos em 104 usuários crônicos desse entorpecente. Parte deles havia começado a fumar quase todos os dias antes dos 15 anos, enquanto a outra adotou o baseado após essa idade. No estudo, finalista do Prêmio SAÚDE de 2011, a turma mais precoce obteve os piores resultados nas avaliações. "Esse grupo específico apresentou um déficit de memória, atenção e capacidade de se organizar", destaca Maria Alice. "Ele ainda continha mais indivíduos que insistiam nos mesmos erros", completa.

O uso da maconha é três vezes mais comum entre os rapazes. O pico de consumo se dá na faixa dos 18 aos 24 anos

Curiosamente, quem passou a fumar maconha só mais velho alcançou uma performance muito semelhante ao de voluntários que nunca tiveram o costume de utilizar o alucinógeno. "Mas isso ainda não quer dizer que ele é inofensivo a partir dessa idade. Será necessário fazer outro trabalho para verificar essa hipótese", ressalta Paulo Jannuzzi Cunha, neuropsicólogo do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC) que também esteve envolvido no projeto.

De qualquer modo, há um elo entre inalar a fumaça da Cannabis durante os primeiros anos da juventude e uma cabeça, digamos, mais fraca. "O cérebro conta com um sistema com o nome de endocanabinoide. Ele regula, entre outras coisas, a fome, o sono, a atenção e a memória. E a maconha afeta todo o seu funcionamento", explica Maria Alice. É que o THC, princípio ativo da maconha, toma o lugar de uma substância chamada anandamida, fabricada pelo próprio organismo e que atua nesse circuito. Aí, ela sobraria na massa cinzenta, o que, na teoria, acabaria desregulando a estrutura mental como um todo. Daí, as consequências para um sistema nervoso ainda em evolução seriam bastante danosas.

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